Com a chancela de Volpi, Bio assume o PV em Mauá

Uma semana após oficializar a saída do PMDB, onde esteve por 22 anos, o empresário Paulo Bio anunciou ontem o ingresso no PV, partido pelo qual se lança como pré-candidato a prefeito de Mauá e, de quebra, assume a presidência municipal. O mentor da manobra é o prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), que, assim como o ex-colega de Câmara de guia Mauá , é adversário ferrenho da deputada estadual Vanessa Damo (PMDB).

A reaproximação da dupla tem como objetivo velado minar as chances de vitória da parlamentar na corrida ao Paço de Mauá em 2012, criando mais uma chapa de oposição ao prefeito Oswaldo Dias (PT), e dividindo ainda mais o grupo contrário à administração. Com as iminentes saídas dos vereadores Atila Jacomussi e Silvar Silveira do PV, Volpi, que fez carreira política em Mauá, enxergou em Bio (à deriva desde que foi destituído da presidência do PMDB por confrontar Vanessa e articular prévia na sigla) liderança para encabeçar o projeto.

Ambos, porém, negam a estratégia, e confiam em triunfo verde no pleito. O discurso já está afinado, e consiste em lançar “a terceira via” em Mauá. Jargões como “renovação” e “vanguarda” estão na ponta da língua. “Mauá vive modelo exaurido, com os mesmos grupos se revezando no poder há 30 anos. A população poderá optar pela continuidade (Oswaldo); pela volta da aliança (José Carlos) Grecco e Leonel (Damo), com práticas muito mais voltadas aos interesses pessoais, que tem como representante a Vanessa; e pela oxigenação, que somos nós”, analisou Bio.

O ingresso dele no PV carrega simbolismo, já que comandará o partido que projetou a deputada. Vanessa trocou os verdes pelo PMDB, a convite do empresário, em 2009, após acusar Volpi de perseguição. Agora, Bio assume legenda com o apoio dos caciques, enquanto que Vanessa e o seu marido, José Carlos Orosco Júnior (nomeado presidente do PMDB), terão de reconstruir sigla. “Acho que saí ganhando”, comparou o novo mandatário do PV – a executiva será apresentada segunda-feira, durante ato solene na Câmara.

Questionado sobre o risco de o discurso propositivo, como quer o PV, se dissipar diante da rivalidade dos políticos, Volpi exemplificou. “Não importa se Vanessa e Oswaldo são bons ou ruins. O que importa é que o Paulo é melhor que eles. É essa a linha que temos de adotar. A cidade não suporta mais brigas pessoais.” “O PV é pacifista. Quem tem linguagem bélica, a vida se encarrega”, concluiu a coordenadora regional do partido, Vera Motta.

Bio fez questão de frisar que, apesar do comportamento previsto, não há chance de reconciliação com Vanessa, nem em eventual segundo turno. “Que fique claro: estaremos em lados opostos.”

Prefeito nega frustração por não ser candidato

No segundo mandato à frente da Prefeitura de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi negou ostentar frustração por não concorrer ao Paço de Mauá em 2012, como queria. A recompensa para a impossibilidade de pleitear terceiro mandato consecutivo no Executivo, mesmo que no da cidade vizinha, é a alta aprovação de seu governo.



“Sinto-me perfeitamente tranquilo pelo projeto de conclusão do mandato com aceitação popular entre 60% e 70%”, diz. Outro ponto compensatório, segundo ele, é abrir o PV para o surgimento de lideranças em Mauá.

Ao contrário do ventilado até aqui, Volpi revela que tinha disposição de enfrentar batalha jurídica para se candidatar a prefeito de Mauá no ano que vem, mesmo com alerta de que o Tribunal Superior Eleitoral não acataria a manobra. Ele foi demovido da ideia pelo prefeito de Florianópolis, Dário Elias Berger (PMDB), que comandou a vizinha São José por dois mandatos (2001 a 2008) antes de capitanear a capital catarinense – situação idêntica a que Volpi encontraria caso vencesse a corrida em Mauá.

“O conselho que ele me deu foi o seguinte: ‘Com a história que você tem, não faça esta aventura. É altamente desgastante para a cidade'”, conta.

O chefe do Executivo de Ribeirão analisa que participar da eleição em Mauá era viável, desde que conquistasse liminares para o registro de candidatura, para a diplomação e a posse (as duas últimas em caso de vitória). “Os adversários atacariam a todo momento e não governaria com estabilidade, atrapalhando a vida da cidade. Não tenho perfil para esse tipo de coisa.”

Em sua projeção para a batalha judicial, o verde analisa que teria fôlego para levar o caso até a última instância, vencendo nas cortes do município e do Estado. Mas, a trinca de elementos que definiu como norteadora para concretizar sua vontade ficou prejudicada quando o TSE respondeu negativamente à sua consulta. “Existia clamor popular, viabilizaríamos a questão financeira, mas a situação jurídica era uma aventura.”

Apoio ao pupilo – Fora do páreo, Volpi assume o papel de ser um dos principais articuladores da candidatura de Paulo Bio. “Fomos vereadores juntos, sempre compartilhamos ideias semelhantes. Bio reúne as melhores condições para ser prefeito.”

Deputada e marido terão de responder por acusações

O estilo pacificador que Clóvis Volpi e Vera Motta pregam não impedirá Paulo Bio de mover queixa-crime contra declarações de Vanessa Damo e seu marido, José Carlos Orosco Júnior, publicadas semana passada pelo Diário. Os peemedebistas acusaram o ex-presidente do partido de ter “vendido” o PMDB para Volpi e para o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias.

“Eles não têm a menor credibilidade para fazer este comentário. Não podem me medir com a régua deles”, contra-atacou Bio, respaldado pelos 22 anos em que militou no PMDB. “Meus advogados entrarão com queixa-crime e eles terão de explicar o que quiseram dizer.”

De casa nova, Bio aproveitou também para alfinetar a ex-correligionária colocando em xeque a capacidade de Vanessa em construir grupo de apoiadores. A deputada sofre resistência interna em virtude do processo de intervenção à executiva municipal.

“Acho que deu tiro no pé, porque 90% do PMDB estará comigo e ficou com partido desarticulado nas mãos. É processo espontâneo. Construí a legenda em 20 anos, não em uma semana.”

Fonte: Diário do Grande ABC





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