A Porcelana Schmidt, que em 2001 detinha 60% do mercado de louças no Brasil, fechará unidade em guia de Mauá (responsável pela decoração das louças) no dia 31 de março. As atividades serão transferidas para Campo Largo, no Paraná. De acordo com o presidente, Nelson Lara, a chegada dos produtos chineses ao País não foi o principal fator que emperrou o progresso da empresa, que hoje detém apenas 13% do mercado. O que mais contribuiu para os resultados ruins foi a redistribuição dos negócios em 1994.
Nessa época, as tradicionais porcelanas (xícaras, pratos, bules) começaram a ser produzidas nas fábricas de Santa Catarina e Paraná, processo que antes era feito no Grande ABC. Agora são trazidas para Mauá para serem decoradas e depois vendidas. “São 400 quilômetos de distância, os custos subiram demais e a empresa começou a enfrentar grandes dificuldades. Além disso, há perda de material por conta da delicadeza da porcelana.”
A empresa, que tem 1.100 funcionários nas três unidades, emprega 390 pessoas na unidade mauaense. Até agora 94 já foram demitidos, serão mais 156 desempregados até o fim do mês, o restante será desligado até o fim de março. “A estimativa é que sejam gastos R$ 5 milhões com as dívidas trabalhistas”, calcula Lara.
Nem todos os funcionários de Mauá deixarão a Schmidt, que pretende realocar 70 deles. Para o escritório que será aberto no bairro Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, serão transferidos 25 profissionais que vão ocupar cargos na área de vendas, marketing e controladoria. A loja de porcelanas, direcionada ao público externo, continuará funcionando.
A empresa também convidou 12 funcionários, que ocupam cargos de supervisão e gerência, para trabalhar no Paraná. Os gestores terão até seis meses para se adaptar ao local e definirem se vão ficar ou não no Sul do País. Para trabalhar na fábrica do Paraná já foram contratados 200 profissionais e serão mais 50 nos próximos dois meses.
DÍVIDA – Além do prejuízo de R$ 1,2 milhão gerado pela Schmidt em Mauá, o espaço onde o empreendimento está localizado também interferiu na decisão da diretoria da empresa, já que o terreno de 67 mil metros quadrados promete ajudar nas finanças. Segundo o presidente, já existem construtoras interessadas no espaço, que poderá ser vendido por R$ 40 milhões. Com o dinheiro a empresa promete arcar prioritariamente com as rescisões trabalhistas e com parte da dívida que tem com o governo, estimada em R$ 200 milhões. O restante do saldo devedor será parcelado.
Ao transferir a decoração para o Sul do País, a companhia estima entrar no azul até o fim do ano – desde 2005 as contas só fecham no vermelho.
MUDANÇAS – A unidade de Mauá foi a pioneira no setor de peças de porcelana no País. Começou as atividades em 1943, com a Porcelanas Real. Em 1945 surgiu a Schmidt, que mais tarde, em 1948, adquiriu a Real. Hoje 50% dos clientes da empresa são varejistas e o restante são os restaurantes e hotéis. Os maiores clientes são Camicado, Pernambucanas, Copacana Palace e a rede Fasano.
De acordo com Lara, para ganhar espaço no mercado a fabricante pretende focar em produtos personalizados, mercado que não interessa aos chineses e também em produtos para o público mais jovem. “Por enquanto, o nome Schmidt é forte para pessoas com mais de 40 anos.”
Funcionários lamentam falta de diálogo; sindicato vai à Justiça
No portão da decoradora mauaense Schimidt, no fim do turno de ontem, era difícil encontrar trabalhador que recebera aviso oficial sobre o fechamento da companhia na cidade. “Ficamos sabendo pela rádio peão”, disse Francisca Gomes, 42 anos, três deles na empresa.
Funcionários reclamavam da falta de diálogo com a companhia. Os boatos dentro da empresa dão conta que todos os trabalhadores serão desligados até o dia 31. As demissões começaram na semana passada.
A perplexidade era o sentimento da maioria dos profissionais, especialmente os que têm mais tempo de trabalho. Caso de Penha Fátima dos Santos, com 21 anos de Porcelana Schimidt. “Foi um absurdo. Mandaram embora na terça-feira passada e hoje (ontem), mas quando perguntamos, não falaram nada.”
Alexandra Regina, 41 anos, completa o sentimento de quem vai perder o emprego. “Ganho R$ 680.” O dinheiro é dividido para o sustento da filha, neto e marido, que sofreu acidente e não está trabalhando. “Ganho cesta básica aqui. Mesmo assim, pagando tudo, sobram R$ 200.”
JUSTIÇA – O presidente do Sindicato dos Ceramistas, Nilson de Souza Batista, disse que a situação parecia inevitável, frente ao histórico da empresa. “Em 1994 tinha 800 funcionários”, época de transição entre fábrica e decoradora e início das demissões. Agora, restam 390 trabalhadores.
Batista diz que o comunicado, feito no dia 13 ao sindicato, não permitiu negociações. E a entidade decidiu recorrer à Justiça. “Vamos fazer isso porque é a única saída, da mesma forma quando ocorreram demissões em 2007, quando tudo piorou.” A companhia garante que os funcionários desligados terão plano de Saúde por seis meses e que vai ajudar na recolocação dos profissionais.
Fonte: Diário do Grande ABC