O número de atropelamentos nas sete cidades do ABC caiu 14% desde o início da campanha Travessia Segura. Foram 534 casos entre dezembro de 2011 e março deste ano contra 621 atropelamentos no mesmo quadrimestre de 2010 e 2011, segundo a Polícia Militar. Santo André lidera o ranking com 155 acidentes nos últimos quatro meses e 179 no período anterior.
Quase todos os municípios apresentaram redução no número de atropelamentos nos quatro meses de campanha. As exceções foram Mauá, onde houve aumento de 3% no número de casos, e a cidade de Rio Grande da Serra, que manteve a mesma quantidade de casos na comparação entre os dois períodos.
Na avaliação da coordenadora do Grupo de Trabalho Mobilidade Urbana do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Andrea Brisida, os números refletem nova consciência dos motoristas. “As pessoas estão tendo comportamento diferenciado. O fato de a Capital ter saído na frente e ter iniciado a campanha e maio do ano passado também ajudou”, avalia.
Fiscalização
Quatro meses depois do início da campanha, a maioria das Prefeituras da região não intensificou a fiscalização dos motoristas que desrespeitam a faixa de pedestres. De acordo com o Consórcio Intermunicipal, as ações de fiscalização devem ser reforçadas dentro de dois meses, após avaliação dos municípios.
O Consórcio disponibilizará R$ 200 mil para contratação de agência que ficará responsável por realizar ações de rua da campanha Travessia Segura. Depois do período de dois meses, as Prefeituras vão avaliar a necessidade de reforçar a aplicação de multas. “A previsão é que tenhamos um período de execução de 60 dias desse trabalho e na sequência vamos fazer nova avaliação e saber se já é possível preparar campanha de fiscalização”, explica Andrea Brisida.
A campanha foi lançada em dezembro do ano passado com o objetivo de conscientizar motoristas da região a dar preferência para os pedestres que forem atravessar na faixa. A meta é promover uma mudança de cultura, em que bastaria aos pedestres estenderem a mão para que os veículos permitissem a passagem.
Orientação
As Prefeituras chegaram a estabelecer data para início de aplicação das multas – 21 de março, três meses após o início da campanha –, mas as administrações resolveram reforçar a orientação antes de ampliar a fiscalização.
“Em um primeiro momento nossa avaliação era que 90 dias de campanha seriam suficientes para conscientizar e sensibilizar as pessoas. Mas no decorrer do projeto percebemos que a sociedade ainda não está preparada para fiscalização mais específica”, explica a coordenadora do Grupo de Trabalho.
Apesar do desrespeito à faixa de pedestre ser infração prevista no Código de Trânsito Brasileiro, na prática a fiscalização atual na região é somente eletrônica. Nos cruzamentos onde não há semáforos ou radares, o controle sobre quem desobedece a legislação é insuficiente.
“Cada cidade tem seu dia a dia, não conseguimos colocar essa agenda como prioritária em todos os municípios”, reconhece o presidente do Consórcio, Mário Reali. O dirigente aponta a necessidade de intensificar a campanha nas ruas da região. “Precisamos ter ações nas sete cidades, principalmente nos grandes corredores, nas regiões centrais”, avalia.
Alguns municípios se anteciparam à decisão do Consórcio e intensificaram a fiscalização. É o caso de Diadema, onde o número de multas a motoristas que pararam sobre a faixa de pedestres dobrou em janeiro deste ano na comparação com 2011. Santo André distribuiu 100 mil folders para conscientizar motoristas e pedestres.
Quadro ainda preocupa, avalia médico
Apesar da queda no número de atropelamentos, a situação ainda preocupa quem convive diariamente com acidentados, muitos deles vítimas de atropelamentos. Professor de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina do ABC, Walter Yoshinori Fukushima trabalha há 28 anos na área e relata crescimento dos casos.
“Com certeza aumentaram nos últimos anos, por conta do crescimento da frota de automóveis e de motos”, avalia. O médico estima que aproximadamente 20% dos pacientes atendidos no consultório sejam vítimas de atropelamentos.
De acordo com Fukushima, a recuperação de atropelados varia bastante. Os fatores que podem influenciar são idade, local de impacto e ainda a forma como a vítima caiu. “Pessoas idosas que são atropeladas tendem a cair de uma forma que ajuda a aumentar o número de lesões”, explica. “Pessoas mais jovens, por terem mais mobilidade, podem movimentar mais o corpo, sair rolando, por exemplo, o que minimiza os machucados”, comenta.
Segundo Fukushima, a maioria das colisões atinge regiões periféricas, como pés ou mãos. As lesões que atingem regiões centrais do corpo são as mais graves, que têm mais chance de causar morte.
O médico pondera ainda que a culpa nem sempre é do motorista. “O pedestre também tem de ter consciência. Dependendo de onde ele passar, não dá tempo de o motorista parar”, completa.
Fonte: Repórter Diário