Jovem da Fundação Casa de Mauá passa em vestibulinho

Guilherme (nome fictício) não quer falar sobre o que o levou a passar seis meses na unidade da Fundação Casa de Mauá. “Foi roubo, mas prefiro nem lembrar.” O que o jovem de 17 anos faz questão de comemorar é o fato de, mesmo dentro da instituição, ter passado no vestibulinho da Etec (Escola Técnica Estadual) para o curso de Mecatrônica. Guilherme foi um dos 29 internos em todo o Estado e único  do Grande ABC a alcançar a meta, que não é fácil ao se levar em consideração o índice de 95% de evasão escolar dos jovens internados.

O processo seletivo da Etec foi em junho, e a aprovação saiu em julho. No mesmo mês, Guilherme recebeu a liberação do juiz para passar para a liberdade assistida. As aulas começaram em agosto e os cadernos já estão cheios de números escritos com capricho.

Não é a toa que a matéria preferida do garoto é matemática. Mas ele também precisou se dedicar à leitura para passar no processo seletivo.

Além de frequentar as aulas regulares na Fundação Casa, Guilherme estudava por conta própria e com a ajuda de funcionários. “Ele recebeu autorização para levar as apostilas para o quarto e, sempre que ficava com dúvidas, questionava quem estivesse por perto”, diz a coordenadora pedagógica da unidade de Mauá, Maria Aparecida Rodrigues do Amaral Pimentel.



Foi assim no dia em que voltou da prova, com o caderno de questões nas mãos, pronto para compartilhar as respostas com aqueles que o ajudaram a lutar pelo futuro. “Fiquei nervoso e, no carro mesmo, vi que tinha errado algumas questões. Achei que não fosse passar”, afirma, com um sorriso aliviado de quem cumpriu seu papel.

Agora que está em liberdade, o adolescente curioso e de olhar tímido divide seu tempo entre usar o computador e desmontá-lo. Ele também abre celulares, rádios e até a televisão da família para saber como funcionam por dentro. “Ele conseguiu consertar a TV daqui de casa”, garante a avó.

EXCEÇÃO
Guilherme é exceção em meio aos internos da Fundação Casa, muitas vezes sem estrutura social e familiar. Em meio aos problemas, a educação fica em segundo plano. Na região há 206 menores cumprindo medidas socioeducativas em quatro unidades, sendo 63 em Mauá, 128 nos dois prédios de São Bernardo e 15 na semiliberdade da cidade de Diadema.

Segundo Maria Aparecida, todos os internos retomam seus estudos assim que ingressam na instituição. “Alguns se dedicam mais, outros menos, mas todos têm aulas regulares com professores do Estado.” Os jovens também são estimulados a fazer cursos de qualificação profissional.

A meta do adolescente agora é fazer faculdade de Engenharia. “Sei que estudar é o que vai garantir o meu futuro. Por isso, não quero parar.” Entre erros e acertos, Guilherme escolheu seu caminho.

Fonte: Diário do Grande ABC





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