No Grande ABC, são três ruas Natal – Santo André, guia Diadema e guia do bairro Mauá. A maioria dos moradores residentes nessas vias públicas se esquece e não associa o nome ao dia em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo. Aliás, são pouquíssimos enfeites nos imóveis. Mesmo assim, todos estarão hoje reunidos com os familiares e os amigos para o almoço de Natal.
É o caso da família Santos, residente na Rua Natal, no Jardim Oratório, em Mauá, há exatos 30 anos. Ao contrário de anos anteriores, a matriarca Maria Inácia César dos Santos, 58 anos, não viajou para Campo Mourão, cidade do Estado do Paraná, próximo a Maringá, onde residem os familiares. “Desta vez não deu certo”, afirmou.
Para o almoço especial de hoje, Maria Inácia investiu na macarronada, além do pernil e do frango assado. Mas tudo na tranquilidade, sem afobação, exatamente como a equipe do Diário encontrou a dona de casa poucos dias antes do Natal. Deitada na rede, sossegada, conversava com o filho Marcos Serino dos Santos, 36, caminhoneiro, sentado em uma das grandes pedras centradas no quintal, bem próximas da porta de entrada.
Beatriz, 12, a filha mais velha de Marcos, copiava a avó e descansava em uma cadeira de balanço. Enquanto a falante Heloisa, 5, fazia a lista dos presentes pedidos ao Papai-Noel: cabana com panelinhas, os palhaços Patati e Patatá…
Indagados sobre passar o Natal na rua de mesmo nome, os moradores entrevistados acharam graça. “Nunca parei para pensar nisso”, afirmou o caminhoneiro, de folga das estrada neste fim de ano. A cena também se repetiu em Santo André e Diadema.
RIO GRANDE DO NORTE
Na realidade, o nome se refere a Natal dos passeios de bugues com emoção ou sem emoção nas dunas de areia, a capital do Rio Grande do Norte. A cidade foi assim batizada por conta da data de sua fundação: 25 de dezembro de 1599.
De volta à casa da família Santos, de Mauá, Beatriz soube informar que o Natal refere-se ao nascimento do filho de Deus. O que não foi lembrado pelo comerciante Manoel Lima Leite, 55, dono de um bar da Rua Natal. “A gente comemora uma vida melhor”, afirmou, ao ser assessorado por amigos, na sequência, que a data representa o nascimento de Jesus.
Ao contrário da família Santos, Manoel, que também reside na mesma via, passaria a ceia, nesta madrugada, na viela do Piauí, vizinha à Rua Natal.
E o morador e comerciante aproveitou para fazer uma reivindicação à Prefeitura de Mauá, que é a instalação de lombada próximo a duas escolas localizadas na Rua Natal. “Aqui os carros descem em velocidade e não respeitam os pedestres, principalmente os alunos e os pais”, alertou.
Atualmente, a Rua Natal em Mauá está asfaltada e com infraestrutura básica para alívio dos moradores. Os imóveis de alvenaria hoje não lembram em nada os extintos barracos de madeira. O cenário mudou. “É uma rua tranquila para se morar. Gosto muito daqui”, reforçou a dona de casa Maria Inácia, que, embora evangélica, mantém a tradição cristã com a família.
SÃO BERNARDO
O Diário esteve na sexta-feira em São Bernardo, no Parque Represa, próximo à Billings, em busca da quarta rua Natal da região, mas não a encontrou. A via não consta no guia nem foi localizada pelo GPS. Moradores entrevistados disseram desconhecê-la.
Casal troca presente do amigo secreto distante dali
O casal Vera Lucia, 59 anos, e Jadir Ramos, 63, reside há 11 anos na Rua Natal, localizada na Vila Silveira, também conhecida como Vila Leopoldina, em Santo André. No entanto, o almoço ocorrerá distante dali, assim como as brincadeiras de amigo-secreto, mais especificamente na Vila Lutécia, na mesma cidade.
A farofa, que saiu no sorteio dos pratos, foi preparada na Rua Natal por Vera Lucia, que não se preocupou em enfeitar a casa. “É uma delícia morar aqui, bem sossegado”, afirmou a dona de casa. O marido sorriu quando associou ser morador da Rua Natal.
Para evangélicos, é uma data como outra qualquer
Para os evangélicos, o Natal é como uma data qualquer. A tradição natalina é colocada à margem na maioria das famílias.
A família de Dirce Ribeiro, 59 anos, residente há 30 anos na Rua Natal, no Parque Sete de Setembro, em Diadema, é um exemplo típico. Nesta madrugada não houve a tradicional ceia nem a troca de presentes. Mas hoje, como bons brasileiros, não faltará o imbatível churrasco na área externa da casa.
Dirce não mantém a tradição natalina, mas aproveita a data, que virou comércio puro, para revender produtos cosméticos de marcas famosas para as vizinhas do bairro e ajudar na renda mensal.
Fonte: Diário do Grande ABC