Moradores do morro do Macuco, em Mauá, contam apenas com solidariedade de vizinhos

Era como o estrondo permanente de um trovão. Assim descreve a adolescente Sibelle Sirlene de Araújo, 18 anos, o que ouvia durante o deslizamento de terra que matou duas pessoas no morro do Macuco e deixou cerca de 200 pessoas desalojadas nesta terça-feira (4) em Mauá, na Grande São Paulo. Ao mesmo tempo em que muitos desciam o morro em busca de terra firme, alguns subiam para acudir os gritos de socorro, segundo Sibelle.

Os gritos eram de Lúcia Saboia Leite, 59 anos. Ela pedia ajuda para resgatar sua filha, de seis meses, que estava soterrada. A tia das crianças, Daina Diniz, 33 anos, foi uma das pessoas que prontamente voltaram a subir o morro.

– Os vizinhos e a Lúcia conseguiram cavar um buraco por onde aparecia só a boca da neném. Foi uma felicidade quando ela foi resgatada, toda cheia de lama.

A solidariedade entre os moradores do morro do Macuco era visível um dia depois da tragédia. Um ajudava o outro na retirada de pertences das casas em áreas de risco. A prefeitura disse ter disponibilizado 25 caminhões para ajudar na mudança, mas durante as duas horas em que a reportagem circulou pelo morro, nenhum veículo foi visto. Os moradores entrevistados tampouco viram essa ajuda.

Sibelle, aquela que disse que o deslizamento caiu feito trovão, negociava durante a tarde propostas de frete. Ela também buscava onde ficar.

– Não tem governo para vir aqui e ajudar a arranjar um teto (…). Nessa hora é nós por nós mesmos.



Curiosidade

Moradores de outros bairros também se prontificaram a ajudar. Três amigos do bairro vizinho Alto do Boa Vista, vizinho ao Jardim Zaíra, onde está localizado o morro do Macuco, prestavam auxílio para quem precisava e aproveitaram para matar a curiosidade da tragédia.

Entre os três amigos estava o motoboy Kleber Pereira da Silva, 27 anos, que disse ser triste ver a precariedade das famílias atingidas e a ausência do poder público. A queixa era generalizada entre os moradores e “turistas” do Macuco.

O único posto de atendimento da prefeitura era um posto do Cras (Centro de Referência de Assistência Social), posicionado a cerca de 500 m do ponto mais crítico do deslizamento. Segundo as atendentes, que preferiram não se identificar por não terem sido previamente autorizadas pela prefeitura a dar entrevistas, a prefeitura está de mãos atadas para ajudar a melhorar a infraestrutura do morro do Macuco em razão da área ser 80% de propriedade privada. O local onde as duas pessoas morreram, no entanto, era uma invasão de área pública.

Há cerca de 15 mil pessoas habitando moradias irregulares na região. A invasão começou nos anos 60.

Em nota, a prefeitura declara que em 2003 entrou com um processo na Justiça contra os donos do loteamento Zaíra. Segundo a nota, a prefeitura espera desde então por uma decisão. A reportagem do R7 não conseguiu entrar em contato com os donos da área.

Fonte: R7





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