Parto normal lidera na rede pública de Mauá

Os partos normais superaram as cesáreas na rede pública do Grande ABC. Em 2009, metade dos nascimentos foi normal, enquanto que em 2010 a proporção foi de 58%. Até o primeiro semestre deste ano, o índice já havia chegado a marca do ano passado. Apenas na cidade de Mauá realiza mais cesarianas (60%).

“Mesmo com programas de incentivo, tem situações em que a cesárea é indicada devido às condições clínicas”, explica o superintendente interino Wagner Boratto do Hospital Radamés Nardini, em Mauá.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que as cesáreas correspondam a 15% dos partos. No ano passado, a média do Brasil foi de 36%; no Estado, 40%; e na região, 42%.

Mesmo aquém do desejado, as prefeituras afirmam que a mudança dos índices está ligada às políticas públicas de conscientização da importância do pré-natal e a orientação dos benefícios do parto normal como a humanização, além da recuperação mais rápida e menor risco para a mãe e o bebê.

A cidade que mais reduziu o número de cesáreas desde 2009 é São Bernardo. O índice passou de 60% para 35%. “Queremos melhorar, mas está aceitável pelo alto risco de casos atendidos”, explica o coordenador da obstetrícia do Hospital Municipal Universitário, Mauro Sancovski.

São Caetano comemora a queda, com índices de 38%. “Preparo e motivação da equipe são fundamentais para incentivar as mulheres”, explica a assessora Especial de Coordenação da Ação Social de São Caetano, Regina Maura Zetoni. Santo André e São Caetano dão aula para gestantes.

A estudante de São Caetano Maria Thamires Reis Silva, 15 anos, sempre quis parto normal. “Fiz curso, participei de palestras e busquei informações e os conselhos”, disse a mãe de Antony, de apenas quatros dias. Já a auxiliar administrativa Erica da Conceição, 19, tinha medo da dor. “Tive a Micaelly dia 8 e estou me recuperando muito bem.”

DESAFIO
Para a coordenadora técnica da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, reduzir a mortalidade é prioridade. “A cesariana aumenta três rezes o risco de vida da mãe e do bebê. Muitas vezes é feita sem que a mulher esteja em trabalho de parto e corre o risco de o bebê nascer prematuro.” Até 2014, o Brasil terá 180 Centros de Parto Normal.

Outro desafio é reduzir o número de procedimentos na rede pública, que segundo Esther, chega a 90%. ” É uma questão cultural que supervaloriza os riscos, as tecnologias e desvaloriza o parto como algo da família, um momento entre mãe e filho.”

Chances de ter parto normal são de 90%

A ginecologista e obstetra da Fundação do ABC Alessandra Palma afirma que a chance da realização de parto normal é de 90%. A opção vai depender da saúde da mãe e do filho e da posição do bebê na barriga.



Para mulheres que já tiveram filhos, é preciso levar em consideração o tempo da primeira gravidez. “Se fez cesárea há menos de dois anos ou dois procedimentos cirúrgicos, não é recomendável o parto normal porque corre o risco de romper o útero.”

Diretora da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, Maria Rita de Souza ressalta que muitas gestantes criam mitos sobre o procedimento. “Dizem que vai doer, que não tem anestesia, que o corte atrapalha a vida sexual. É quando entra o papel do profissional, das campanhas e da mídia para desmistificar e incentivar.”

Outra preocupação é o tempo do parto. Para as especialistas, varia de acordo com a paciente. “Tem partos que podem durar até 24 horas. E é só demorar um pouco que já querem fazer cesárea. É preciso entender que cada uma tem seu tempo”, explica Alessandra.

A operadora de caixa de São Caetano Fabiana Gonçalves de Souza, 25 anos, levou 24 horas para ter a filha Fabiana. “Em comparação ao meu primeiro filho não sofri tanto como esse”, disse a mãe, que também tem um menino que nasceu por cesárea.

A terapeuta holística de São Bernardo Talita Lisboa, 28, sempre quis parto normal, mas precisou optar pela cesárea. “A bolsa estourou, porém, no hospital viram que o bebê tinha feito cocô dentro do útero. Dessa forma, para a segurança dele, foi feita a cesárea”, relembra a mãe de Antônio.

OPÇÃO
Se puderem escolher, a fisioterapeuta Cíntia dos Santos, 34, e auxiliar financeira Vanessa Pires, 21, querem ter os filhos por parto normal. “A recuperação é mais rápida e as condições são mais indicadas para um parto sadio”, explica Cíntia, grávida de nove meses.

Vanessa quer ter o segundo rebento pelo procedimento normal. “O contato da mãe e do bebê é essencial. Minha mãe teve os quatro filhos de parto normal, tive meu primeiro filho assim e já sei como é a recuperação.”

Mulheres optam por cesárea por medo e comodidade

Mesmo com todos os benefícios do parto normal, há mulheres que ainda preferem a cesárea. Entre os motivos está a praticidade de marcar data e hora e a ideia de que provoca dores menores.

Diretora da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, Maria Rita de Souza Mesquita estima que pelo menos 40% das mulheres estão decididas em fazer cesárea quando chegam ao consultório.

A coordenadora de orçamento de Mauá Gislene Meneses, 34 anos, sempre teve pavor de parto normal. “O medo da dor e de ficar horas em uma sala me assusta”, explica a mãe de Nicolas, 10 meses, que fez cesárea. “A recuperação não foi traumática como muitas mulheres dizem.”

A designer de Santo André Danielle Cruz do Carmo, 29, já fez duas cesáreas. “Além da praticidade de marcar a data, mesmo sabendo a importância do parto normal, sempre tive medo das contrações e das dores, não queria sentir”, explica a mãe de Larissa, 3, e Lucas, 8 meses.

Fonte: Diário do Grande ABC





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